segunda-feira, 21 de maio de 2012

Asas de papel inchado


Conto um, dois, três, quatro, cinco grãos... De tantos que estavam em minhas mãos
De repente ao invés de parar, escorregam
Quando vejo, já se foram muitos; se transformaram e agora já não tenho mais controle
Pedras transformadas em areia; algo que tinha eu apertava e mantinha comigo, agora não tenho mais.

Impotência, força, paradoxos de querer transformar e, ao mesmo tempo, fechar os olhos e esquecer. Paradoxo de não querer ficar parada onde está, mas ao mesmo tempo não consegue tirar os pés dessa areia movediça.
Entre os pés, dentre as mãos, sou preenchida com uma sensação de encheção; encheção de cabeça, encheção de tarefas, encheção de preocupações, encheção negativa, inchação que ocupa meu último centímetro de cabeça e coração livres.
Cadê a agulha pra estourar isso e mandar a encheção pro inferno?!

Mandar tudo pros ares, acompanhado de minha cabeça, minha razão, minhas horas mal gastas e noites mal dormidas.
Mandar pros ares tudo aquilo que não gosto, despachar as palavras incertas, os olhares arrogantes, os discursos falsos, a necessidade não atendida, a oportunidade não encontrada; mandar pros ares tudo aquilo que não voa dentro de mim.
Talvez lá eles encontrem um lugar para ser livres.

Quero que tudo isso voe pra bem longe! Vou pegar estes papeis e fazer asas, mesmo que descartáveis, amarrar com estas frases que leio e não fazem mais nenhum sentindo e arremessar do precipício que toda manhã minha cama parece estabelecer com o chão.

Quando tudo isso levantar voo, por minha conta e risco, vou respirar e ver que no ar da minha mão possuo mais poder do que segurando todas aquelas antigas pedras e grãos.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Nada estranho...Tudo normal...

Um dia, quando o sol nascer estranho
Vou ver que alguma que tinha que passar, não passou
Vou ver que alguma coisa que tinha que ser, não foi
Vou ver que falta tua presença do lado do meu travesseiro

Um dia, quando a noite escurecer estranha
Vou ver que tua mão não está na minha coxa
Vou ver que teu sussurro não está no meu ouvido
Vou ver que alguma coisa que tá faltando, não foi embora

Mas por enquanto, deixo o sol e noite, assim, normais...
Nada estranho
Nada estranho...Tudo normal...
O sol claro, a noite escura, contando com seus ponteiros para reger meu tempo
Vou vendo teus olhos cerrados de sono sob os lençois
Vou vendo tuas letras mal faladas pregadas de preguiça
Vou vendo que normal é tudo estando com você

Se escurecer claro um dia ou se amanhecer uma escuridão
Vou vendo que normal é tudo estando com você
Se acordar na noite ou durmir no dia
Vou vendo que normal é tudo estando com você

Nada estranho...Tudo normal...

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Letrada

Da marca do pulso que tinge
a tinta de dor que atinge minha marca.

Do que voa para ver o que veio
e parte do vento pra deixar o que voou.

Da onde esperar que o ponteiro parta e
partir do ponto que me espera desde a porta.

Entrada de saída, sair com aquilo que entra e não fica,
mas passa de saída com aquilo que não quer ficar.

Fingir que não quero ver o fim
e do fim do véu ver o que se finge por detrás.

De trás, trazer a frente pro avesso
e avançar no contrário do que eu trouxe.

Jogar letras no letreiro do jogo do analfabetismo
da minha letra por mim.

Analfabeta da minha letra,
escapar obsoleta do absurdo que planejei
e surpresa com o que apareceu letrado em meu plano.