segunda-feira, 4 de julho de 2011

Letrada

Da marca do pulso que tinge
a tinta de dor que atinge minha marca.

Do que voa para ver o que veio
e parte do vento pra deixar o que voou.

Da onde esperar que o ponteiro parta e
partir do ponto que me espera desde a porta.

Entrada de saída, sair com aquilo que entra e não fica,
mas passa de saída com aquilo que não quer ficar.

Fingir que não quero ver o fim
e do fim do véu ver o que se finge por detrás.

De trás, trazer a frente pro avesso
e avançar no contrário do que eu trouxe.

Jogar letras no letreiro do jogo do analfabetismo
da minha letra por mim.

Analfabeta da minha letra,
escapar obsoleta do absurdo que planejei
e surpresa com o que apareceu letrado em meu plano.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O que basta

O que te basta hoje era o que bastava ontem?
Te basta esperar para ter somente o que basta?
Ou já não há mais tempo para esperar e tenta-se adivinhar o que basta?

Basta ter aquilo que somente cruza a linha de chegada?
O que basta é o bastante ou o suficiente?
É o limitador ou o limitante?

Se o bastante nos bastasse... Mas só o que nos basta é a medida perfeita.
Nem o médio, nem o raso, nem o bastante... Só o que basta.
Basta pra passar, basta pra sarar, o que basta é suficiente.
É entregue em 28 minutos?
O bastante não é entregue com prazo, nem com período manhã, tarde ou noite.
E acho que o bastante mesmo nunca se descobre, somente se basta.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Olhos de travesseiro

Vontade de abraçá-los
A transmissão de uma calma singular
Envolvendo-me
Caçando minhas dúvidas e colocando-as para relaxar

Me deixando encaixar palavras entre suas penas
Revezando entre a leveza do ar e o preenchimento da alegria
Entre meus braços, dançam, cercam todas as minhas linhas
As internas
As dos sentimentos
Do que somente os olhos conseguem pegar

Olhos de travesseiro em que quero descansar
Quero contar tudo de uma vez
Abraçar todo de uma vez
Dormir, tranqüila

Confortáveis, intensos, necessários
Pra abraçar, dormir, contar

Grata pelos olhos de travesseiro que posso contar e os que ainda vou encontrar

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Quanto aos fogos de artifício

Todos os anos tomamos a obrigação de estourar a champanhe, pensar sobre os 365 dias anteriores e colocar metas para os próximos 365. Estamos acostumados aos ritos de passagem para dizer que algo acabou e estamos começando uma nova fase. Sob garrafas empilhadas, roupas brancas manchadas e o resto da ceia, ficam ali tudo o que gostamos, ou não, do ano que passou e as centenas de pensamentos de coisas que deveriam ser feitas, que vão ser ou que poderiam ser, mas você não sente vontade ou coragem para efetivá-las.

Engraçado como precisamos vestir o branco, ouvir os fogos e pular sete ondinhas para desejar um Feliz Ano Novo ao outro ou simplesmente para pensar sobre o que estamos fazendo da nossa vida. Nos apegamos aos ritos de passagem e apoiamos neles as nossas mudanças. É necessário cantar parabéns, entregar presentes, montar a árvore, beber a champanhe...

Pois, vou mudar as coisas em março, desistir daquele emprego em junho, arranjar um namorado em setembro e desejar um ótimo agosto para meu amigo. Ok, não precisamos vestir preto no próximo 31 de dezembro, nos trancar no quarto no aniversário e fundar uma ceita #antisistemaderitosdepassagem, mas, do fundo do coração, não espere o dia 31 de dezembro pra mudar alguma coisa que você não gosta no dia 4 de janeiro. Isso são só números. Uma contagem exercida para não perder o tempo das colheitas.

O dia-a-dia se conta por atitudes, não por horas.

Vou ligar para um amigo, passar um final de semana na praia, tomar um café com aquela colega que não vejo faz tempo, ir a um lugar que gosto, jantar com meus pais e ligar pra desejar um Bom Dia para meu irmão e fazer com que cada uma dessas coisas tenha tanto valor quanto gritar Feliz Ano Novo na praia de Copacabana. Porque tem. E tem mais.

Agora, sinto que estas palavras até chegaram a esbarrar na pieguice (desculpe) em meio ao questionamento da necessidade ou importância desses ritos de passagem (que, de verdade, ainda não sei concluir). Em meio a palavras que queriam instigar alguém a fazer algo diferente ou fazer algo de sempre de outra forma; em meio aos champanhes, aos fogos e aos pensamentos desta marcação que quer deixar de se render pelo ponteiro e passar a ser liderada pelo desejo.