segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Quanto aos fogos de artifício

Todos os anos tomamos a obrigação de estourar a champanhe, pensar sobre os 365 dias anteriores e colocar metas para os próximos 365. Estamos acostumados aos ritos de passagem para dizer que algo acabou e estamos começando uma nova fase. Sob garrafas empilhadas, roupas brancas manchadas e o resto da ceia, ficam ali tudo o que gostamos, ou não, do ano que passou e as centenas de pensamentos de coisas que deveriam ser feitas, que vão ser ou que poderiam ser, mas você não sente vontade ou coragem para efetivá-las.

Engraçado como precisamos vestir o branco, ouvir os fogos e pular sete ondinhas para desejar um Feliz Ano Novo ao outro ou simplesmente para pensar sobre o que estamos fazendo da nossa vida. Nos apegamos aos ritos de passagem e apoiamos neles as nossas mudanças. É necessário cantar parabéns, entregar presentes, montar a árvore, beber a champanhe...

Pois, vou mudar as coisas em março, desistir daquele emprego em junho, arranjar um namorado em setembro e desejar um ótimo agosto para meu amigo. Ok, não precisamos vestir preto no próximo 31 de dezembro, nos trancar no quarto no aniversário e fundar uma ceita #antisistemaderitosdepassagem, mas, do fundo do coração, não espere o dia 31 de dezembro pra mudar alguma coisa que você não gosta no dia 4 de janeiro. Isso são só números. Uma contagem exercida para não perder o tempo das colheitas.

O dia-a-dia se conta por atitudes, não por horas.

Vou ligar para um amigo, passar um final de semana na praia, tomar um café com aquela colega que não vejo faz tempo, ir a um lugar que gosto, jantar com meus pais e ligar pra desejar um Bom Dia para meu irmão e fazer com que cada uma dessas coisas tenha tanto valor quanto gritar Feliz Ano Novo na praia de Copacabana. Porque tem. E tem mais.

Agora, sinto que estas palavras até chegaram a esbarrar na pieguice (desculpe) em meio ao questionamento da necessidade ou importância desses ritos de passagem (que, de verdade, ainda não sei concluir). Em meio a palavras que queriam instigar alguém a fazer algo diferente ou fazer algo de sempre de outra forma; em meio aos champanhes, aos fogos e aos pensamentos desta marcação que quer deixar de se render pelo ponteiro e passar a ser liderada pelo desejo.