segunda-feira, 12 de abril de 2010

Perdas

Perder faz parte da vida. Existem vários tipos de perda. Um amigo que vai morar longe. Um desastre natural que leva casas embora. A morte. Ou simplesmente pessoas que se afastam ou são afastadas de nós por algum motivo. Motivos para estas perdas a gente até sabe, o que difícil é achar explicação e, acima de tudo, conforto pra isso.

Não há palavra que conforte. Doação que substitua. Ou justiça que faça tudo voltar atrás. Assistindo aos noticiários, pessoas choram por outras que nem sequer foram encontradas. Que devem estar abaixo de tanta lama, concreto, memória... Soterradas pela história que outrora viveram. E quem é o culpado de tudo isso? O prefeito, o governador, o presidente, o clima, a má condução do homem quanto ao meio ambiente, Deus? Ou simplesmente “aconteceu”?

Não creio que alguém algum dia ache essa resposta e se achar também, não sei qual o valor desta, o que ela pode fazer por estas pessoas. Talvez possa ajudar pra isso não mais acontecer, possa abrir os olhos da gestão pública para os problemas que estão aí há décadas. Mas, ok. E daí? Será que providencias vão ser tomadas? Mas o pai daquela família ou a criança que estava brincando no quintal vai ressuscitar? Não. Talvez seja uma visão pessimista, mas acho que nada mais levamos dessa história toda do que o fato. Do que o fato de que pessoas perdem coisas e pessoas. Do que o fato que o morro caiu. Aprendemos sobre a esperança, ok. Mas, e aí (de novo)? O que isso muda agora? No que isso reduz a perda? Acho que já tivemos exemplos suficientes para mudar isso e até agora num vi lá grandes coisas.

Fora dos motivos causadores da perda que podem ser mudados e a gente - digo a “gente” sociedade mais poder público, não muda, existem aqueles que estão além do nosso alcance. Como o tempo, a distância e o livre arbítrio.

Como aquela velha turma de colégio ou faculdade que quer manter o contato, mas cada vez mais fica menor com reuniões cada vez mais espaçadas. É normal que as pessoas tenham objetivos diferentes, gostem de trabalhar em locais diferentes e morar em bairros diferentes. Não ia ter graça e espaço pra todo mundo se todo mundo fosse igual e quisesse sempre as mesmas coisas. Mas o fato é que isso acaba afastando pessoas que antes tinham poucos e os mesmos objetivos que a gente, como só ir à faculdade. E que bom que isso acontece. É sinal que as pessoas estão crescendo, amadurecendo e escolhendo o que querem para si, definindo as suas vidas que agora podem, ou não, ter coisas em comum com a sua.

Mas é sempre difícil. Outro fato é que o ser humano não sabe lidar com a perda, não sabe como não chorar ou ver que a outra pessoa está melhor, mesmo que seja em outra cidade que não a sua. É difícil. Um processo que exige lágrimas, recordações e muita saudade. Um processo que exige força. Força para entender. Força para ser racional. Força pra ver que pra chegar coisas novas, algumas precisam ir embora. Para começar ciclos, alguns precisam ser encerrados. Mesmo que isso exija mudanças que vão machucar pessoas ou até você mesmo. Para se ter cicatrizes é preciso se machucar. E ninguém sai ileso disso tudo aqui. E se sair, que graça tem, não é?

Sem querer comparar as perdas, quando vejo moradores que perderam tudo nas chuvas, pessoas que via freqüentemente e agora não vejo mais e amigos morando longe penso que nós ainda temos muito que aprender sobre as perdas. Mas também chego a péssima conclusão nós nunca vamos aprender a lidar com isso. A gente sempre vai chorar, mesmo sabendo que é melhor pra outra pessoa. E a gente sempre vai pensar em ligar mais para aquele amigo. Ou tentar rever alguém. A dor da perda não passa assim tão fácil, o máximo que podemos fazer é substituí-la por uma saudade e, mais tarde, transformá-la numa doce memória ou tomá-la como uma chave para abrir novas portas.

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