segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Farol

Mãe chamando para entrar em casa. Pião rodando. Ali, na calçada, brigaram pelas cartas no bafo. Bola rolando com a batida do taco. Pés crescendo com a batida do tempo.

Ali, no portão de casa, um chamou o outro quando o pai brigou pela nota baixa. Um chamou o outro quando o avô morreu. Ali, pela janela, um consolou o outro, na altitude que a infância os permitia.

Confusão. Festa escondidas. Porres. Ali, na sala do amigo, eles misturaram cerveja, pinga, bombeirinhos, vodka e o que tinha de mais barato no bar mais próximo. Discutiram pela garota que um ficou e o outro não. Discutiram futebol. Pouco dinheiro, menos ainda responsabilidade e muita vontade.

Ali, no bar, um ligou para o outro para contar que não sabia o que fazer da vida. Ali, na balada, ele segurou o amigo que perdeu o equilíbrio perdendo a conta dos copos. Ali, num colchão da sala, ele acordou o amigo lhe oferecendo um café bem forte e um remédio para ressaca.

Contas chegando. Aluguel. Namoro. Menos tempo. Mais trabalho. Ali, na viagem de Ano Novo, eles valorizaram os dias que há anos não tinham juntos. Contaram como ia o namoro. Ali, na beira da churrasqueira, contou que a iria pedir em casamento. Disse que estava pensando em crescer. Pensaram que estavam crescendo.

Ali, na praia, estouraram a champanhe, pularam as ondas. Pularam momentos. Pularam anos, histórias. Memórias. Sete ondas, muitos anos. Oferendas. Agradecimentos. Sentados, ali na areia, olharam o mar como se olhassem tudo aquilo que ia e voltava na vida e algo que permanecia ali sempre. Ali, no mar. O farol que iluminava tudo o que precisavam no momento que fosse.

Pique-bandeira, esconde-esconde, pião, taco, shopping, cinema, barzinho, balada, roda de conversa, jogo de futebol no domingo, festa de aniversário própria – depois dos filhos. Fazendo carreira nas amizades. Subindo cargo a cargo, responsabilidade a responsabilidades com aqueles que escolhemos além de conviver, viver.

Pela infância, pela faculdade, pelos acasos, pelos amigos de amigos, pelo trabalho, pelas namoradas, pelas esposas. Atalhos nos quais estas pessoas estão só esperando conversas, encontros, almoços, sorrisos, ombros e abraços para deixar o atalho e entrar no caminho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário