quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Corram! Ou cuidem do mundo!

(ok, vou fugir um pouco do que coloquei aqui, mas vou colocar algumas matérias que escrevi e que gosto - não deixam de ser divagações, principalmente nessas para a Revista MyWave, na qual tenho liberdade de pirar na batatinha)

As previsões ambientais não são das melhores. Mas como ainda não vendem territórios na Lua e você tem que ficar por aqui mesmo, saiba como a coisa vai estar daqui uns anos


Derretimento das geleiras. Grandes tempestades. Furacões. Enchentes. Queimadas sem controle. Extinção de milhares de animais. Fim da biodiversidade. Escassez de água. Disseminação de doenças. E calor; muito calor. Não, isso não é mais um roteiro de um filme hollywoodiano do tipo o mundo vai acabar, corram e esperem o galã te salvar. Aqui, no mundo que efeitos especiais não resultam em Oscar, e sim em destruição, não há Tom Cruise, Will Smith ou Spielberg que consiga reverter o caminho em que o mundo anda. Só cerca de seis bilhões de pessoas podem fazer isso (e talvez): os habitantes deste pobre mundo consumido.

Não é preciso ser nenhum estudioso para perceber que as coisas estão meio de pernas para o ar. Mudanças climáticas pelo aquecimento global, efeito estufa, uso desenfreado da biodiversidade e desperdício de água. Todas essas ações provocarão nos próximos 60 anos, nas melhores estimativas, seríssimos problemas. “Quando a temperatura sobe, eu tenho mudanças climáticas. Se eu mexo com a água, tenho escassez no futuro. Se eu mexo com as florestas, eu acabo com a biodiversidade. São vários corredores e todos indo para um único ponto. O planeta caminha para colapso ambiental”, diz o professor do Departamento de Ciências do Ambiente da PUC, Paulo Roberto Moraes.

Confira hoje na telinha

É. Alguma coisa diferente está acontecendo. E o planeta já está se cansando de nos avisar. No Brasil mesmo, mudanças podem ser vistas. Enchente no Norte e seca no Sul? Desabrigados pelas cheias em Santa Catarina? Furacões no Brasil? Ué, mas Deus não era brasileiro??? Então, o resto do mundo deve estar fudido.

Atualmente, uma das melhores representações é a tão falada gripe suína, gripe A, gripe H1N1, enfim. Seja qual for o nome usado, a realidade é que a doença já apresenta 5.265 casos confirmados e 61 mortes, segundo relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) do dia 12 de maio. Isso num período de três semanas, desde sua identificação no dia 24 de abril. Agora, você acha que isso é só uma coincidência? Que é normal? Ou seria mais um aviso do nosso planeta?

Por um lado, a tecnologia ajuda na pesquisa para cura e identificação rápida do vírus, por outro, a globalização contribui fielmente para a fácil disseminação do influenza. Afinal de contas, qual era a facilidade que se tinha antigamente para se viajar até os EUA ou pro Canadá? Hoje, homens de negócio fazem bate e volta nesses países. Superpopulação, consumo excessivo e até a diminuição de florestas influenciam a expansão de doenças – com no caso dos vírus de florestas. Um dos exemplos mais destrutivos, e sem resposta, é o ebola, epidemia que atinge a África. Aliás, na África, tirando os poucos países turísticos modificados pelos e para os gringos, a maioria concentra baixa tecnologia, péssimo saneamento, raros atendimento de saúde e alta população. Modernos fatores propícios para a disseminação de doenças. A AIDS no continente é mais que um bom exemplo disso.

Segundo o professor Moraes, esta é justamente uma das piores conseqüências do tratamento que damos ao planeta. As pandemias. “A água não vai subir da noite pro dia. A gente pode se mudar, por exemplo. Agora, a gente está subestimando o processo da gripe suína. As pandemias se espalham muito rápido e é preciso agir rapidamente. O problema é justamente a escala”.

Cabe mais um?

O aumento acelerado da população mundial, e consequentemente seu consumo, é o principal responsável pelos desastres que ameaçam a vida na Terra. Efeito estufa, extinção de espécies animais e vegetais, buraco na camada de ozônio e principalmente o esgotamento dos recursos naturais estão na ficha criminal da superpopulação terrestre. “É como preparar um Buffet para 100 pessoas e chegar na hora vir 500. Vai faltar estrutura para atender todo mundo”, compara o professor da PUC.

O consumo da nossa população assola diversas áreas. Talvez a mais preocupante seja a da alimentação. “Segundo alguns modelos matemáticos, poderemos culminar na diminuição da produção agrícola, com sérios comprometimentos nos estoques de alimento do planeta”, diz Eliana. Só pra calcular o estrago, por ano, a população chinesa aumenta em cerca de 15 milhões de pessoas. Assim, em alguns anos, a China precisará de 300 milhões de toneladas de grãos por ano para alimentar a população – o que equivale à soma de todas as exportações de grãos do mundo.

Por mais que robôs, máquinas e modernos fertilizantes aumentem a produtividade de terrenos agrícolas, a extensão destas áreas é inevitável, chegando às florestas, que convertidas em pastos ou plantações, deixarão de exercer o trabalho de equilibrar o clima por meio da oxigenação. O uso de fertilizantes sintéticos também modifica cada vez mais o solo, o que agrava mais um dos nossos futuros problemas: escassez de água potável. Os lençóis freáticos, que poderiam renovar nossa quantidade de água, hoje sofrem com a poluição de fertilizantes, no campo, e com o não abastecimento pelas águas da chuva, na cidade, por conta da impermeabilização causada pelo asfalto. Além disso, a nossa velocidade do consumo é bem maior que o tempo de recuperação dos mananciais.

Outra vítima dos seres humanos, mas não menos prejudicada, são os ecossistemas- conjunto de formas de vida que tornam o mundo habitável. Pois é, vimos tantos filmes em que a Terra não é mais habitável que estamos tentando fazer o mesmo. A ação humana isolou os ecossistemas naturais. Cercamos florestas, regiões ribeirinhas, vegetações típicas e biomas. Sem ter para onde ir, essas formas de vida simplesmente deixarão de existir, em uma perda da biodiversidade. Calcula-se que a espécie humana se apropria de 50% do potencial da produtividade do conjunto dos ecossistemas. Ah, e pesquisas mostram também que a concentração de gás carbônico na atmosfera e o crescimento populacional são diretamente proporcionais.

Como se vê não só ambientalistas têm a responsabilidade de mudar o mundo, mesmo quando as previsões são ambientais. Uma política pública de natalidade já adiantaria bastante o nosso lado, juntamente com uma nova estrutura econômica – a economia ecológica (veja o conceito em boxe separado). Porém, com a redução da natalidade, os governos não conseguiriam pagar aposentadoria à crescente população idosa e os sistemas previdenciários entrariam em colapso.
39º de febre

Além do inchaço populacional, e como causa deste também, um dos fatores das mudanças que vimos hoje é o aquecimento global. Sem dúvida, o planeta está esquentando e óbvio que isso muda algumas coisas. A grosso modo, coloque um vaso de planta direto no Sol durante algumas horas e depois coloque na geladeira. E depois no Sol. E depois na geladeira. Não há ser vivo que não sofra com mudanças de temperatura. Se não morrer, ele vai sofrer sérias adaptações para sobreviver, como já definiu Darwin lá atrás na história da biologia.

Há mais ou menos duas décadas, o aquecimento global saiu dos círculos acadêmicos para ganhar as rodas de conversa. O ponto para disparar de vez a falação foi em 2007 com a divulgação do quarto relatório do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), órgão da ONU que reúne os cientistas e políticos mais cabeçudos de cerca de 100 países para analisar as mudanças climáticas.

Segundo o relatório do IPCC, no ano de 2100, a temperatura média será 1,4ºC a 5,8ºC mais alta. Na primeira hipótese, o planeta atingiria a mais alta temperatura em 1 milhão de anos, e na segunda, teríamos um aquecimento que a Terra não vivencia há 3,6 milhões de anos.

Os níveis dos oceanos subirão entre 18 centímetros e 95 centímetros, inundando áreas onde vivem cerca de 120 milhões de pessoas. Alguns fenômenos que envolvem a atmosfera e o oceano, como o El Niño, também seriam cada vez mais freqüentes e mais intensos.
O relatório ainda mostra que a maior parte do CO2 lançado na atmosfera nos últimos séculos ficará lá por mais de 100 anos, e o CFC, poluente relacionado a sprays e geladeiras, demora mais de 1 milhão de anos para se dissipar.

Além disso, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a modificação do clima é responsável por 2,4% dos casos de diarréia e 2% dos casos de malária em todo o mundo, entre outras doenças. No Brasil, por exemplo, poderá ocorrer aumento de doenças, como a dengue, e riscos de epidemia nas regiões alagadas ou até mesmo em regiões planálticas.

Como já dissemos, quando acontecem mudanças, as espécies com maior capacidade de adaptação sobrevivem. Aproximadamente de 20 a 30% das espécies de animais e plantas entrarão em extinção. E no mundo humano, não basta apenas capacidade. O dinheiro vale mais. Com a mudança de regime de chuvas, por exemplo, os países mais pobres, que sobrevivem da agricultura de subsistência, sofrerão quebras de safra e consequentemente longos períodos de fome.

“É como se a Terra tivesse apresentando os primeiros sintomas de uma doença. Agora, ela está com febre, mas daqui a pouco quando atingir seu máximo de temperatura, as coisas não vão mais ter volta”, diz o professor da PUC. “Nossa relação com o planeta tem que mudar”.

Mas quem ligou o forno?

Segundo a mestra em Desenvolvimento e Meio Ambiente e Consultora da Fundação Rio Parnaíba, no Piauí, Eliana Morais de Abreu, o aquecimento global decorre de fatores, como o aumento na produção de gás carbônico e a consequente poluição atmosférica.

Nós lançamos CO2, CFC, metano e outros gases na atmosfera que retêm a radiação solar que normalmente seria refletida de volta ao espaço. Assim, ligamos o microondas da Terra. Antes mesmo do homem morar por aqui, esses gases já eram produzidos pela decomposição de seres mortos, vulcões e queimadas espontâneas. O problema é que estamos passando da conta. Desde a Revolução Industrial, no século XVII, a queima de combustíveis fósseis aumentou 600 vezes a emissão de CO2 na atmosfera, de 10 milhões de toneladas por ano para 6 bilhões de toneladas anuais.

Porém, há um pequeno grupo de cientistas, os céticos, que discorda da tese de que o homem seja o grande causador do aquecimento. Para eles, as alterações climáticas são comuns na história do planeta, e por causas naturais, principalmente pela atividade solar. O astro vem se aproximando do planeta, o que muda a quantidade e a distribuição da energia que o Sol emite sobre nós. “Alterações climáticas são cíclicas e sua periodicidade não se afere com o tempo humano”, declara o Mestre em Pesquisas Sociais e Estudos Populacionais, Marcos Zurita, do RJ.

Mas , o IPCC, por onde se rege a grande maioria dos pesquisadores, define que o Sol tem apenas 7% da responsabilidade pelo aquecimento em curso. “Mais de 90% das causas são de origem humana”, concorda o professor Moraes.

Os céticos caíram ainda mais no conceito, quando em 1998, o Instituto Americano do Petróleo (API), que integra as principais empresas petrolíferas, tentou bancar cientistas para falar em público sobre as “reais causas do aquecimento”. Interesse no assunto? Mmm... Em contrapartida, estes cientistas defendem que tudo não passa de uma conspiração de ONGs e ambientalistas que querem lucrar com o dinheiro governamental para ações de preservação. “De qualquer forma, as previsões catastróficas constituem-se em um alerta à sociedade e ao poder público para adotarmos tecnologias limpas e reduzir estas atividades humanas”, diz a consultora do Piauí.

Alô? Capitão Planeta? Dá pra dar uma força?

Para diminuir a emissão de gases poluentes, temos de mudar hábitos, buscar novas fontes de energia e substituir as antigas, reciclar o lixo, plantar árvores, entre outras medidas. O custo disso tudo, segundo o IPCC seria algo entre ¬US$ 78 bilhões e mais de US$ 1 trilhão por ano. Sim, é bastante. O próprio relatório do órgão reconhece que os esforços para acabar com o aquecimento global não são fáceis e devem vir acompanhados de outras políticas públicas, como saúde, educação e desenvolvimento econômico. “Somente através da adoção de políticas públicas sérias voltadas para a proteção ambiental é que formaremos cidadãos conscientes”, defende Eliana.

Porém, além de quem está sentado nas câmaras e no Senado, é preciso tirar a bunda do sofá aí de casa. O primeiro passo vem com nossas próprias atitudes cotidianas. “Hoje em dia, você já vê discussões do tema, isso é um avanço. Está se criando uma consciência, mas ainda é preciso entender melhor a função da natureza e a partir daí desenvolver um senso crítico de conservação e preservação ambiental”, explica Moraes.

Na teoria é uma coisa, mas na prática ainda há um descaso com a conservação do meio ambiente. Para o professor, a consciência é mais bem construída em países orientais, como no Japão. No Ocidente, há aquele delay em práticas modernas que visam o mundo ao invés do dinheiro que ele possa gerar. Já para Zurita, essa consciência ambiental é algo plantado na sociedade que acaba nem tendo muitos fundamentos e esquece o maior bem natural do mundo, o homem. “Não se pode levar ao homem condições para que viva plena e dignamente em detrimento de uma intocabilidade absoluta do meio, de sua esfera de contacto. Este é o mote atual!”, defende.

Por nossa culpa, as previsões são inevitáveis, mas justamente por isso caiba a nós um pedido de desculpas que fique mais nas ações do que nas palavras. É lindo e moderno ter “consciência ambiental”, mas isso não basta. A estátua da Liberdade não está segurando fogo para atearmos às florestas e nem o Cristo está de braços abertos dizendo: Venham e fodam tudo! Por isso, comece a fazer alguma coisa ou pelo menos não tenha filhos. Os poupe do mundo que vão encontrar e poupe o mundo de mais um que vai contribuir para a superpopulação.

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